Esse que traz na carne,
da luta pelo pão
as fundas cicatrizes,
não sabe dessas crises
de novo anunciadas
que afetam-lhe, de muito:
as crises inventadas.
Quer mais que essa liberdade
de dormir, de encher a cara,
de ir e vir, sem compromisso,
de cantar uma canção.
Quer mais que esse tosco circo
em que se ri, sem razão.
Mas, nada diz. Não o comove
ver ao alto embandeiradas
as esperanças do povo
em épocas de eleição.
Suporta, pois, em silêncio,
mágoas nunca mitigadas.
E segue. É trabalhador.
Que outra coisa, ele faria?
Ausculta, assim, sua dor
na dor furiosa dos martelos
e foices do dia-a-dia.
Esse que traz na carne,
sem honra, tais cicatrizes,
não sabe falar de crises.
Se soubesse, gritaria.
(Da coletânea "Estado de Espírito", de Sergio de Sersank)
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