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A Dívida


Há dívidas devidas a outrem com olhos na cara.

Dívidas de uma colher de açúcar um dia pedida

Na orla da soleira da boa vontade vizinha.

Boa vontade que nos acresce o desejo

De lá voltar no dia de adoçar.



Dívidas para com a tolerância,

Enchem o travesseiro nas noites remexidas.

Dívidas abandonadas a pedirem para serem honradas!

E a estrada tem tantas partidas…



O tempo encolhe o que ficou por fazer,

Vento agreste que empurra o Ser!
Passo a mão suavemente no gesto da bailarina,

Que não se alcança e aceito lá não chegar.


Vejo os meus filhos numa ideação tão forte

Que os recortes de cada qual são arestas buriladas.

E não espero que aceitem nada do que lhes não dei.


Tantas psicologias e artes da culinária,

Autopsicografias com um gosto a hortelã…
Solidão que me dão além do pão atravessado na mesa que nunca se põe.
Sozinho com a dívida nunca saldada

De costas para o sol que se afunda no mar sereno dos outros.


Filhos com sabor a agressão falando de paz e participação,

Realidades de arestas cortantes em forma de areias e bolachinhas com cara de ursinho.

E o canto abafa-se, é difícil de engolir.


A minha pena é estar só, espero que não piore.
Ando lentamente e sinto-me empurrado,

Temo perguntar para onde esta história me conduz.