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Sem sonhos para resgatar

 

Não quero o que quero.
Se o que quero é um compromisso,
então não o desejo.


Cólera do desejo impossibilitado,
revolta de não almejar,
sono sem sonhos a dependurar.  


Capitalismo e força de trabalho,
trabalho intelectual.
Urbanismo, arquitetura e design.
Design martelado em xisto repetidamente.  


Casas, museos e teatros: eu não fui
Tourneés, jam e artshops: lá faltei  


A montanha tem vindo a mim com algum mofo de atraso.
Tenho metido o nariz no chão quando passa o aroma.
Outros ficaram presa dos cânticos
e, como todos, a dado passo
falharam o compasso, e os sentidos, confundidos,
perdidos, não dão resposta.  


O que se quer não desejo eu.
Reconheço os degraus de uma escada.
Vejo os obstáculos.
Nada de viril ou viçoso em ultrapassar pedras.  


Et puor se muove. De alguma forma,
o porto espera o navio emoldurado de sol.  

O navio desconhecido sem ondas a cortar a proa.
Popa onde ninguêm cogita cartas náuticas.
Nave de nunca para nenhures atempadamente.
E os marinheiros dobrando bujaronas que não tem mastro na caravela dos afogados.  

E tudo isso num mar hipotético, 
que arrimo em cais que não se deseja
não há.  


Nada, nickles, zed, niente.  


Para sobrar há que ter tido.  

Não resta nada ou migalhada.

Minhocas saciadas,
cabeça esgotada.  


Lá no escuro ouve-se um choro desafinado.
Chora-se e o ranho escorre
incontidamente.