ELEGIA A UM CADÁVER
(A um cadáver desconhecido na mesa de necropsia)
Deitado com os olhos fixos sem brilho,
No horizonte desconhecido do infinito.
Olhos que antigamente admiravam,
Inquiriam e confirmavam.
Hoje apagados não mais admiram,
Não mais indagam nem confirmam.
Eles apenas refletem o opaco do abstrato.
Lábios que antes beijavam, blasfemavam, oravam,
Encontram-se hoje pela rigidez cadavérica
Representando o rictus macabro da morte.
São lábios que não mais beijam, blasfemam nem oram.
Eles simplesmente retratam o silêncio da vida
Para algazarra misteriosa da morte.
Mãos que acariciavam,
Que transmitiam o calor da amizade,
Hoje, já não respondem o aceno da vida,
Elas apenas traduzem a inércia da morte.
Coração que antigamente cadenciava
Com seus batimentos,
Risos, tristezas,
Amores e desamores,
Hoje, já não bate mais.
Seu toque é o silêncio sepulcral
Que dá a cadência de um futuro
Encoberto pelo véu negro da morte.
E neste clima misterioso de dor
Que me encontro confuso
Por não saber se estou escrevendo
Numa folha de papel
Ou se apenas, estou sendo refletido
No espelho de minh’alma.