aderson cavalcanti

ELEGIA A UM CADÁVER

ELEGIA A UM CADÁVER

(A um cadáver desconhecido na mesa de necropsia)

 

 

 

Deitado com os olhos fixos sem brilho,

No horizonte desconhecido do infinito.

Olhos que antigamente admiravam,

Inquiriam e confirmavam.

Hoje apagados não mais admiram,

Não mais indagam nem confirmam.

Eles apenas refletem o opaco do abstrato.

 

Lábios que antes beijavam, blasfemavam, oravam,

Encontram-se hoje pela rigidez cadavérica

Representando o rictus macabro da morte.

São lábios que não mais beijam, blasfemam nem oram.

Eles simplesmente retratam o silêncio da vida

Para algazarra misteriosa da morte.

 

Mãos que acariciavam,

Que transmitiam o calor da amizade,

Hoje, já não respondem o aceno da vida,

Elas apenas traduzem a inércia da morte.

 

Coração que antigamente cadenciava

Com seus batimentos,

Risos, tristezas,

Amores e desamores,

Hoje, já não bate mais.

Seu toque é o silêncio sepulcral

Que dá a cadência de um futuro

Encoberto pelo véu negro da morte.

 

 

E neste clima misterioso de dor

Que me encontro confuso

Por não saber se estou escrevendo

Numa folha de papel

Ou se apenas, estou sendo refletido

No espelho de minh’alma.