Quero sentir sensações, sentimentos, desejos, quero amar e sentir que também sou amada, ter mãos suaves que me acariciem.
Nas noites frias de inverno um corpo quente onde enroscar-me como era no tronco de uma árvore. Ouvir o toque do telefone e correr para atender e ouvir a voz doce de alguém. Quero ser um todo sem corpo, só a alma e coração por muito tempo sentir que sou mais que cinza e pó.
Que os meus olhos possam ver as madrugadas, frescas e límpidas, o ocaso cor purpura e alaranjada, imaginar o fim do oceano onde o sol se esconde.
Ouvir o chilrear dos pássaros, músicas inacabadas, que nos dão calma e por vezes pranto. Ter inteligência para compreender e conseguir emendar o que por ignorância faço mal.
Afinal pouco me contenta, basta ter o dom de viver o meu interior, que é só meu.
Atravessei pontes, subi montes, pisei terra molhada descalça, senti a natureza a renascer em cada primavera.
Sempre só, entre muitos. Sempre acompanhada mas só. Critico os meus defeitos, choro por muita coisa que queria ter e não posso, talvez algumas já as tive, mas o tempo roubou-mas. Mas o firmamento é como o mar devolve tudo novamente de maneira diferente no seu aspecto. Mas no fim é o mesmo, nós é que já não somos o que fomos.
Caminho perdido, em lugar nenhum, sombras de quem fez parte da minha vida e que com dor tive que me despedir para sempre.
Sombras indeléveis, que vagueiam junto a mim, dos entes queridos que terminaram o seu tempo de viver. Sinto-os e gosto, uma saudade doce invade-me, somente falo com o coração e lhe digo olá.
Talvez em lugar nenhum serei sombra e acompanharei a quem me amou e eu amei.
Porto, 29 de Julho de 2014
Carminha Nieves