Cinco da tarde. Desci e fui à confeitaria buscar dois mil folhas para fazer uma sobremesa. Duas empregadas, cadeiras vazias, três pessoas para recolher um bolo de aniversário. Esplanada sem ninguém.
Atravessei a rua e fui à Igreja. Vazia. Tinha subido 37 degraus, no átrio um mundo de avisos, “não há missa diária” secretaria aberta das 17 e trinta As 18 horas, Igreja aberta aos Domingos das 17 às 19 horas. Lojas bastantes todas fechadas abandonadas sem nada. Pensei, estou no meio da cidade, olhei para os prédios, onde vivo tem ar de triste, gaiola onde definhamos. Automóveis, muitos. Saí para apanhar um pouco de ar e sentir o sol, vim pior. Senti-me nada no meio de nada.
Abandonada há três anos pela filha e neta, ao sabor do destino, vagabunda de sonhos desfeitos, em realidade é desolador tudo, nem sei o porquê de viver.
Os cães e gatos têm onde ficar enquanto os donos estão de férias, com piscina aquecida, médico, nada lhes falta. Mas entretanto definham em hospitais Pais abandonados, já não falando dos que ficam em cidades desconhecidas sem documentação enquanto os familiares vão de férias e quando regressam não os procuram. Mas se um Pai os quer deserdar não podem. Que tempos são estes?
Ao longe outra cidade comtemplo, quanta miséria esconde. Mais moral que física ou monetária. É urgente, vital para o mundo que se reponha a igualdade entre novos e velhos. A força da juventude é um dom. o cansaço da velhice uma punição.
Senhores das leis, parem, pensem, modifiquem sejam honestos. Desigualdade não é só entre pobres e ricos, entre saúde e doença, entre amor e desprezo, entre aconchego e solidão. Olhem pelos que tudo fizeram e deram, sem nada ter quando fraquejam as pernas, quando curvados andam sem destino arrastando os pés cansados de andar a trabalhar para os filhos. Esses que os renegam, insultam e inventam que estão com insanidade mental. Quando é o contrário.
Cada vez vai ser pior, hoje um fedelho de quinze anos bate nos Pais e avós e ficam impunes.
Nem só as mãos o fazem, com palavras e silêncios bate-se muito mais e com mais dor.
Como eu sem Família há milhões, como eu sem casa porque me foi usurpada também.
Mas leis que nos protejam não há.
Vivos mortos erramos por ruas desertas, as mesmas que de mão dada andamos com os filhos e netos em pequenos. A vida é madrasta, os filhos carcereiros da nossa liberdade alegre.
Quero morrer num salão de baile cheio de luz e flores, abraçada a ti, que não existes ao som de uma valsa e elevar-me deste mundo ingrato às nuvens do paraíso. Morrer sim, mas feliz.
Porto, 18 de Agosto de 2014
Carminha Nieves