Que coração é este que tanto sente, que vive a música suave e bela de um piano, que se eleva ao infinito, que jubila em sentimentos. Obrigando as minhas cansadas mãos a procurar no vazio outras que as apertem e me levem para um baile no etéreo, onde sou silhueta branca revolteando suavemente entre o nada da existência oca do físico.
Que interior místico é este que eternamente jovem, arrasta o meu corpo para a juventude plena e sábia de quem já não a possui. Mente vibrando de emoções que mudam as tristezas para alegrias e esperança de viver.
Que almas me deram ao nascer tão limpa e doce, que força me rege no meio de tantas vicissitudes, dando-me momentos sublimes de ser o que não entendo.
Porquê esta alma maior que o corpo, porquê este sentir tão profundo. Não sei. Mas sou feliz na diferença de ser diferente e única.
Por vezes sinto pena da frivolidade que vejo á minha volta, mas continuo a ser eu na essência de ser a criatura que um dia numa madrugada fria de Abril nasceu num monte, tendo por tecto o firmamento, numa aldeia perdida junto á fronteira, onde o Meu Pai estava escondido. Nascer e morrer não tem hora. É só um momento.
Mãe perdoa, devia ter esperado um pouco mais, mas sou culpada sem culpa. Que juntos hoje estejam orgulhosos junto a Deus desta vossa filha
Não chorem por mim, não sofram, eu aguento. Era o destino meu, nada o modificaria, só tendo a força imensa que Deus me deu, posso dizer que amei e amo a vida!
Mesmo vexada, insultada, abandonada, sou feliz e sou superior, porque sei que a inveja é a causadora de tanta miséria moral. Já pagarão. Como? Não sei nem quero saber.
Simplesmente, sou feliz se tenho um relógio de cuco em madeira rude e branca. Como brinquedo numa casinha de bonecas.
É bom. É doce. É o que sou. Um brinquedo nas mãos do destino.
Porto,26 de Janeiro de 2015
Carminha Nieves