Acordei com sol. Vento suave, quase brisa. A noite um pouco fria será, mas já é bom ter um dia primaveril. Espero que não seja engano, pois é dia um de Abril e amanhã volte o cinzento em que estou há muitos meses, com ventos frios a uivar pelas frinchas das janelas, modernas e de vidros duplos. Com a natureza nada podemos. Ainda bem. Pelo menos o homem não a estraga. Semana difícil passou, senti o corpo em convulsão, como árvore dorida no rebentar das folhas e na floração. Como filha da Terra sinto que estou a reviver a gerar energia para regenerar o corpo.
Se fosse o sol, sofreria muito, os verdes prados, campos dourados de trigo, encostas de montes com abetos, flores selvagens, manchas brancas de ovelhas a comer os rebentos de erva. Crianças a correr nos campos lavrados com os seus cães, homens lavrando ou de sachola a plantar o sustento de muitos, muito pouco já existe. Floresta selvagem de cimento mataram a beleza que o Sol acariciava. Hoje nem pode aquecer e iluminar casas pequenas, porque o progresso, tirou-lhe o seu espaço.
Ruelas tristes com uns vasinhos nas varandas resistem, mas não vêem o astro-rei. O cimento não deixa. Montanhas esventradas, por cimento cinzento das auto estradas sem se poder ver, painéis horríveis de mil cores tapam as vistas. Corredores da morte onde se perdem vidas, em grandes carros, param não ir a parte nenhuma. Pobre natureza. Quem em tempos longínquos partiu para outros países e regressam com ânsia de rever e matar saudades, nem sabem onde estão. Tudo desapareceu. È pena, mas é a crua realidade.
Nem me queixo de nada já. Tenho vergonha, comparando a minha vida com outras o que tenho é que agradecer. Há tanto sofrimento, tanta tristeza e angústia, nos outros que me sinto afortunada e abençoada. E o que mais me espanta é a leveza com que aceitam tudo. Sentimento calmo no meio de um inferno que passam no dia-a-dia. Lições de vida, que me ensinam a ter vergonha de ter chorado sem razão e sentindo-me infeliz.
A ti que sofres, que vives sem esperanças, que tudo te falta, que em casca de noz tentas no mar embravecido do infortúnio, chegar a um areal dourado, peço o meu perdão pelo egoísmo em que envolvi a minha mente.
Que nesta Pascoa um ovo gigante te dê a realização dos teus desejos e possas ser e ter algo mais e melhor do que tens.
Porto 1 de Abril de 2015
Carminha Nieves