Somente para tomar um café. Mas sentia que já te conhecia há muitos anos e sabia que já não tinha a pele fresca, não eram os quinze anos. Tinha sofrido muito, doente com gravidade, vida triste e sem amor. Sentia-me a envelhecer. Por isso não tomamos um café, queria que me recordasses como era. Amava-te muito, nunca o soubeste, ânsia enorme de te ver. Mas resisti. Hoje arrependida, porque a morte levou-te e só soube muito depois. Nem chorar consegui, só uma imensa dor, uma frustração imensa, paralisou-me, nem sabia que fazer. Escondendo de todos sofri em silêncio e revivi a nossa amizade de tantos anos. Momentos alegres, momentos que só depois de não os poder ter mais dou conta do imenso tesouro que tinha.
Assim é na vida. Perde-se e encontra-se arrependimento por não ter sabido aproveitar a sublime dádiva do sentir a felicidade.
Lembrei-me muito de ti hoje, numa Páscoa diferente, entre uma grande Familia eu estava só. Olhava a alegria a cumplicidade entre eles e revoltei-me com o destino que tive. Vivi sempre longe dela, só com os Pais e dois irmãos. Morreram sem os conhecer. Resta um Tio, uma ou duas primas da enorme Família que era e mesmo estes estão longe, idosos, mas um primo tive que era como um pai irmão, amigo e defensor. Morreu quase ao mesmo tempo do meu Marido. É triste, desprotegida sem apoio, ter filhos igual a nada, netos a mesma coisa. Tanta complicação por ter um companheiro que Deus me mandou. Nem sei como foi. Mas agradecida estou. Se não fosse ele num qualquer hotel viveria, sem horizontes nem carinho.
Dia de Pascoa aniversário da neta, que loucura de sentimentos, que incompreensão da minha parte, perante a relutância em não quererem que tenha um pouco de felicidade, incompleta, fora de tempo, receosa de não poder viver muitos mais anos.
Saber que um dia tem que valer por mil. Meu Deus! Deixa-me viver um pouco mais, ter outras Pascoas e sentir o que é ter Família.
Cansaço, mas pelo menos, estive acompanhada, aceite bem acolhida por parte de todos e senti alegria no olhar meigo do meu companheiro. Obrigado Joaquim. Tenho-te muita amizade e carinho, do Céu abriste as portas ao acolher-me nos teus braços e simplesmente com um abraço dizeres ESTOU CONTIGO! E GOSTO MUITO DE TI.
Se te pudesse amar fá-lo-ia, mas não posso, compenso-te com toda a minha ternura e afecto. Tu sabes.
Que na nossa simples casa exista a verdade, amor entre ajuda e lealdade.
Porto 6 de Abril de 2015
Carminha Nieves