Como grãos de milho, caídos do saco gasto das ilusões que tive, pelo caminho do tempo. Nada tenho que me impulse a escrever, a vida esvaziou-me o pensamento.
Da alma plena de amor, de desejos, de esperança, certezas falsas, nada quase ficou.
Um vazio gélido, um acordar sem rumo, uma onda barrenta, amarelada, suja a areia da praia onde deitada sonhava que as estrelas estavam perto e que as podia tocar. Silêncio que sufoca o entardecer da vida que me resta.
Como tanto mudou em pouco tempo tem explicação. Fazendo uma retrospectiva, não encontro o momento da ruptura do que tinha e acabou.
Como água a ferver evaporou-se, recipiente seco e em brasa ficou na chama do sonho.
Sem vontade de nada, não encontro algo que me impulse a ser o que era. Coisa vaga sem rumo nem ilusões vivo o tempo. Nem pensar quero. Desleixo de sentimentos, sou vagabunda numa vida desconhecida imposta. Nem chorar consigo, afinal não sou nada para ninguém. Bem queria mudar e voltar a sentir emoções mesmo que magoada ficasse. Mas sequei as lagrimas sofridas, as noites acordada deitada no sofá a tentar entender.
Vida que fizeste tu de mim? Porque me tratas assim, se tu és a minha Mãe?
Diz-me o porque e qual a razão desta solidão, destes braços pendentes, destas mãos vazias. Se dei vida a outros, se dei água a quem tinha sede, se tirei da minha boca alimento para quem tinha fome, porquê este castigo? Despojei-me de uma imensidão de coisas para dar aos outros, hoje nem uma migalha de carinho recebo.
A face em que alguém me dá beijos, é outra parte da vida, assim como o corpo que recebe abraços. Agradeço a quem o faz, mas uma parte de mim faminta de compreensão com vínculos indestrutíveis está vazia, é um sentir tão amargo!
Como é possível em três anos, mudar tanto o viver de uma pessoa. Nem me recordo da última gargalhada feliz que dei. Posso comer pão duro, posso ser pobre, posso passar frio, mas o coração precisa de muito mais. E não tem nada.
Cansaço da vida, cansaço de mim, cansaço de lutar pela verdade, sem esperança, que um dia um pedido de perdão e um abraço me devolva o que pensei que tinha.
Carminha, Carminha, Carmela de sapato branco e meia amarela, como cantava a minha Mãe, volte para dentro de mim.
Sou desconhecida dentro de mim. Sou estranha encaixada na verdadeira pessoa que sempre fui. E assim é a vida. E assim é o meu destino. E assim sem viver vivo como posso, nesta fase difícil.
Não quero pensar que vai mudar, desilusões, não quero mais ter. Basta! Chega!
Assim, é o ser humano, quando o lado obscuro, como trevas corrompe a luz da lealdade e capacidade de discernir o bem do mal.
Batalhei sem descanso, perdi a batalha e perdi quase tudo que das entranhas gerei.
Enganados estão outro ventre não terão, nem o verdadeiro amor de Mãe. Assim escolheram, assim será. Viverão a pisar as minhas lagrimas, se estão felizes que continuem. Nada posso humanamente fazer.
Que a justiça Divina faça o julgamento e castigue os culpados.
Eu era, eu sou e serei sempre eu. Ceifada, do meu campo onde as minhas raízes, estão continuarei a alimentá-las para viver. Entre tempestades algum sol terei. Assim espero, pois desejar já não o fasço. Quero só a mão de Deus a segurar a minha e viver com um pouco de paz e força para poder retribuir do que resta de mim os abraços e beijos que recebo com carinho de alguém.
Porto, 22 d2 Maio de 2015
Carminha Nieves