SEM IMPORTÂNCIA
Vagueando sobre nuvens de recordações, vou indo ao acaso sem ter um fim nem limite.
A lutar por mim, a inventar que sou ainda alguma coisa, sigo, pele rasgada, de tantos espinhos, mas procuro o sol e tentar que ilumine os meus olhos tristes, a alma dorida.
Tento, Deus sabe que tento, mas entre a idade e a certeza que não tenho muito tempo, entre tentar não ver as rugas, evitar ter vergonha de ser Mulher inteira, de orgulhosamente afirmar-me entre os mais novos que sou um ser humano com direitos iguais aos seus, esgrimo o meu orgulho e saber.
Espero que a Primavera me faça brotar novos rebentos e florir como árvore pujante com raízes fortes e poder ultrapassar, tudo o que o tempo me levou e os que amei e tudo dei, retrocedam e voltem de novo, a regar com o seu amor a terra onde me seguro para não murchar.
Temores, medos, vão e veem. Sei que já não tenho a vitalidade, dos vinte anos.
Abençoado, desconhecido que ontem me deu um sopro de esperança, quando com imensa simpatia me pediu que o deixa-se ser gentil para comigo, recuando o automóvel no estacionamento para eu abrir a porta do meu carro. Eu entrava bem, mas Ele quis que o pudesse fazer a uma pessoa tão simpática como eu. Foi um voltar ao passado, onde sempre fui bem tratada e respeitada como Mulher. Lembrei-me quando me abriam as portas para entrar, me davam assento, levantando-se do assento.
O beija-mão aflorando os lábios na minha mão, a delicadeza com que me trataram sempre.
Tive sempre o que hoje não existe como mulher. Direitos, mas dados com delicadeza, Nunca me senti inferiorizada, nem prejudicada, pelo contrário. Simples, elegante, educada, era respeitada e acarinhada.
Piropos tive muitos. Mas sempre com subtileza e respeito.
Hoje tenho vergonha de outras que não se respeitam e desistiram da beleza, que é ser Mulher.
A luz que encadeou o passar dos anos, ainda a sinto. Mas também vejo no olhar dos outros a tristeza quando me dizem: Em nova deve ter sido muito bonita, ainda hoje é. Pois a vida é assim. Crua, dura e sem volta atrás.
Percorro as fotos, do antes, do agora e aceito bem, tornei-me um quadro a óleo que tem que ser visto um pouco de longe.
Quero ter a visão, límpida, fortaleza neste meu esqueleto ambulante que no fim todos somos e que não se rompa a capa que o tapa, com saúde e um sorriso.
Obrigada Senhor desconhecido que tão gentilmente me deste, um olhar de ternura e carinho misturado com admiração.
Coisas pequenas, mas muito grandes para nos sentirmos bem.
Por graça de Deus, tenho alguém que me acaricia a face e me diz; tu és linda! É bom muito bom, assim como procurares a minha mão e ficar com ela entre a tua.
A vida é feita de pequenos nada para muitos e muito para mim que no fundo é um nada.
Porto,11 de Março de 2016
Carminha Nieves