Quis ser alguém. Coisa pouca, quis deixar algo de mim, mas tudo ficou incompleto, imperfeito. Ansia de andar depressa, não fui perfeita. Mas não importa. Alguma lembrança deixo. Nunca tive incentivos, nem ajudas, pelo contrário, não aceitavam nada que fizesse.
Portanto se escrevi mal, se não tentei reler nunca o que publiquei, assumo os erros.
Amor para dar, ninguém para o receber.
Ansiosa por ser amada, nunca aconteceu.
A tempo senti que nunca é verdadeiro. Todos querem satisfazer os seus desejos ou receber algo em troca.
Alguém ouve que amei em verdade, foi um amor eterno, pois hoje mesmo ao fim de muito tempo ainda tenho saudades. Partiu sem se despedir, estava ausente, só soube quando voltei.
Recordações, muitas, de coisas singelas, mas o que mais sinto falta é da voz e do olhar velado e atento.
Depois de tomar o pequeno almoço, volto a deitar-me, não para dormir, mas para sonhar acordada. Sou o que quero, viajo, sou importante, o centro das atenções, desde bailarina de ballet onde como pena quase voo, até uma grande escritora, passando por pianista, compositora, senhora de fortuna, acompanhada dos que partiram e me deram amizade sincera, amei e um pouco de felicidade me deram, tudo consigo realizar quase sentindo que é real.
São os meus melhores momentos. A alavanca que me dá força para o resto do dia.
Levanto-me leve e agradavelmente satisfeita. Com a chuva a bater na janela ou o sol a beijar-me é igual.
Esquecida da estupidez das pessoas, das mentiras governamentais, da falsidade dos abraços, dos sorrisos forçados, enfim de tudo quanto vejo e me repugna.
É aqui que vivo, portanto aguento. Tentando enganarem-me sou eu que os engano fazendo de conta, mas como híper sensível sei o que pensam, o que querem e interiormente gozo e bem.
Se pudesse como no meu sonho matinal, juntava todos quantos me acarinharam, ajudaram, pobres, ricos, humildes, mas sãos de espirito e com a simplicidade que os honestos e verdadeiros têm.
Se só alma fosse, era eterna, por isso tento que ela me absorva, para ter o tempo dentro de mim. Não pergunto nunca a mim mesma o que quero. Se quero ser mais alma que matéria, não tenho gosto, nem desejos. Mas como o pensamento é independente, por vezes digo; gostava tanto de…, mas é normal e passa-me rápido. Volto a ser normal como se o fosse também. Pois, para uns sou vaidosa, para outros, meia tola, mas para alguns sou diferente na educação no saber e na maneira de estar.
Ainda bem que há de tudo um pouco. A ultima coisa que disseram foi uma modista que não me conhecendo e a minha ajudante levou uma saia para arranjar, comentou que tinha uma cintura que poucas iguais há. Perguntei o porquê e a rapariga disse que era muito pequena. Ainda bem. Lá estou eu a ser vaidosa! Nada disso, orgulhoso sim. E assim vou absorvendo as pequenas coisas que me põem um sorriso na cara. Agradeço quando há sinceridade.
Estou pronta. Vou trabalhar. Gosto de o fazer. Já dei um pouco de atenção ao computador, que merece e me atura.
Porto,13 de outubro de 2016
Carminha Nieves