carminha nieves

SENTIR

                     SENTIR            

 

Mil significados. Mil atalhos. Confusa palavra, pequena, mas enorme. Tudo o que a vida contém se resume em cinco letras.

É a chave que abre toda a nossa vida. Se estamos doentes, tristes, alegres, ofendidos, prejudicados, arrependidos, ansiosos, em paz com o mundo. Medo de muita coisa, receios, angustia, medida certa do pequeno nada que somos. Como algo crónico, sem cura, vive-se no sentir. Tudo é. Tudo guarda, desde que começamos a ver o mundo, depois do limbo de sermos criaturas deitadas em berços. Mal começamos a andar e a falar a termos cinco sentidos, o sentir aí está para sempre. E o mais curioso é que não pensamos nele. Nem no dos outros. Dizemos ou fazemos coisas sem pensar, que ofendemos, ou magoamos, quem sente de maneira diferente.

Se todos ao deitar, fizéssemos um resumo do nosso dia a dia, de certeza que ao acordar pediríamos desculpa a alguém. Ínfimas coisas que não fazemos, como um simples telefonema a alguém só para dizer “Bom dia,” dar uma palavra amiga a quem já foi algo na nossa vida e que por razões da própria nos afastaram.

O viver e ajudar outros a fazê-lo não custa nada. Mas infelizmente, só pensamos em nós. Um pensamento fugaz, dos que estão doentes, dos que arrumados em lares estão fora da família. De quem vive só na recordação do que já foram e hoje obedecem sem reivindicar, pois não o podem fazer, da multidão imensa que vegeta, sem rumo nem sonhos, nem futuro. Como massa inerte, vivem porque respiram e o coração bate.

Somos máquinas dentro da do tempo. Vazios, ocos, aparências de riqueza, ter mais que os outros, impostores, todos perfeitos, na imperfeição da frieza do sentir.

A terra treme o mar encrespa-se, lá bem no fundo algo se revolta e caiem montes e matam, rios de lama inundam e soterram seres inocentes. Crateras que se abrem e destroem pontes e muito mais desastres acontecem todos os dias, mas o homem não faz caso a estes avisos. É a terra mãe que está farta de nós. Pisada, maltratada e nós sentindo que vamos por caminhos errados continuamos a viver na mentira e falsidade, com o único fim de sermos ricos e poderosos.

Sente o teu sentir, não tenhas vergonha de seres diferente. Faz caridade, mas sem o mostrar. Ganha o teu pão honestamente, não queiras o dos outros. De palavras sem sentido, de promessas vãs, de políticos incultos, médicos que são mais operadores de máquinas, do que ajuda para quem precisa deles com humanidade, de tanta coisa mais! Oh Deus! Ajuda-nos. Obriga a todos a sentir! Padres na Igreja, futebolistas no campo, verdadeiros governantes a governar, filhos a respeitar os Pais, Pais a educar com sabedoria os filhos e o sentido comum e simples a suplantar a vergonha de não ser verdadeiro este mundo em que vivemos.

Somos cirios acesos que sem pavio apagam. Nunca se esqueçam que uma pequena corrente de ar ou um suspiro o podem apagar.

Porto, 14 de março de 2017

Carminha Nieves.