CLAUDIO S. SAMPAIO

Cântico

O teu corpo

É uma lua cravejada de crisântemos

E a um toque de lábios

Todo ele floresce

Teu fulgor de astro

Irrompe entre as falésias de meu peito

Convoca os mares de meu sangue

Ondas acodem. Porém

Me beijas e se aquietam todos os ventos

Me abraças

E me torno em uma cacimba  

Soterrada de pétalas

Quantas noites

Se ocultam entre os anéis de teus cabelos?

Que astros tecem órbitas

Nos espaços de teu sono? O que sei  

É que tua voz lembra um arroio fluindo

Continuamente 

Que há pássaros cantando em teu sorriso 

E que teu olhar está repleto de cometas

Beijo a tua boca

Com meus lábios de silêncio e carne  

E toco com meus dedos

O jardim em tuas espáduas

Vejo estrelas caindo no teu colo 

E de teus seios brotam lírios

E perfumes de rosas. Porque tudo

É primavera no teu corpo

Da pele de teus lábios

Frutificam romãs

Mas a tua boca tem o gosto

De pêssegos maduros

Meus olhos te buscam

Meus olhos te pedem

A minha pele tem sede  

De tua boca. Mas teu corpo  

O teu corpo está suspenso nas alturas

Alhures de meu gesto

E petição. Teu corpo

Governa o mito das origens. Nele  

Convergem todos os meus caminhos

Caminhas por sobre mim 

E de teus rastos brotam jasmins e dálias

Por isso te celebro com cítaras

E à tua formosura ergo um canto e bato palmas 

Entoo-te o mais puro dos cânticos

Porque sou um fruto de tua gênese  

Sou vulto anônimo, anônimo astro

Gravitando sempre em torno  de tuas mãos

O teu corpo  

É um alcácer de silêncios

Mas quando te penso

A minha alma é uma revoada de pássaros

De repente teu corpo

Me põe reverente. Meus gestos

Adquirem a quietude casual

Das coisas simples. É quando

Vejo tua luz adentrando as minhas arcadas

E o teu amor é como orvalho

Derramado lentamente sobre mim.  

 

- Buritis, ano 2001.