Viemos de longe, minha criança
Das províncias de montes altivos
E vales gloriosos. Orvalhados
Pela luz de Aldebarã, viemos
Dos rumos de onde chegavam
(Num tempo esquecido)
As antigas comitivas.
Ali estabelecemos o trono
À sombra do lobo e da serpente.
Ali se estabeleceram as tribos
Quando nobres cantavam poemas
Para suas mulheres
E pastores descansavam seus rebanhos
Junto às fontes do deserto
Valentes relatavam proezas
Às roda do fogo, enquanto ao longe
Resguardados sob torres de âmbar
Monges recitavam preces
Pelos que rumavam para as guerras
E pelos peregrinos da jornada
Viemos de longe, fustigados
Pelos ventos do equinócio e guiados
Pelo fulgor da estrela. Os pergaminhos
Predisseram, e não a voz de um sábio
Eleito pelos homens. Escrituras
De um tempo sagrado, suas memórias
Contavam de um Rei
De seus palácios deslumbrantes
E da sagrada linhagem que marcou a epopeia
E a trajetória de um povo que travava suas batalhas
Sob a égide de um Deus
Guerreiros golpearam com lanças
Os flancos dos gigantes
E trespassaram com suas flechas
A fúria dos nômades
E dos soberanos das estepes
A este povo e a este Rei
Chegamos, minha criança
Alijados de broquéis e espadas
Munidos viemos de sonhos e esperanças
Trazemos dor e prece
De dinastias que se levantam
E que se curvam, submissas
É de boa vontade e com as ânsias abrandadas
Que as oferendas trazemos
É, de fato, este Menino
O que acendeu na noite a luz da estrela
E o canto dos arautos com o seu vagido?
Riquezas e honras
São pouco ante a nobreza
Deste que se levanta
Formoso como um leão ao meio dia.