Alguém me fez sentir rainha, alguém me fez sentir amada, alguém me deu ilusão sem medida.
Ninguém em verdade, mas é o que eu quereria.
Entre sonhos, embalada num baile de esperança fui tudo, mas sem ser nada.
Olhando as estrelas voava para muito longe, no despertar da adolescência, no silêncio da noite, ia por esse mundo além, sem rumo, vi palácios, bailarina fui em bicos de pés no palco do desejo de ser algo que nunca o iria ser.
Esvoaçava entre todos e ninguém me via, era coisa pouca era a criança esquecida, entre adultos.
No meio do trigo, com os cães e gatos por companhia, o cabelo dourado como o trigo que me escondia com eles falava.
Mas esta etapa da vida era também dourada, pura fantasia, imaginação sem limites, suave era o vento cálido, que aquecia a inocência da criança no limiar da adolescência.
Era feliz, hoje sei-o com a certeza de quem viveu, momentos inesquecíveis.
Encarrapitada no damasqueiro, sentada a comê-los, envolta no aroma que me envolvia, os cães deitados na relva fresca do jardim, os gatos a brincar noutro galho, era o paraíso.
Corria como gazela pela avenida da quinta, enterrava os pés na terra molhada, ao fim do dia suja, descalça desgrenhada ia ter com as empregadas, para me ajudarem a ser a “menina “antes que os meus Pais chegassem.
Oh! Carminha ,Carminha Carmela de sapato branco e meia amarela! Na realidade foste única na maneira de viver.
Em verdade continuaste sempre, o que fizeste no colégio não lembra a ninguém. Indomável, mas doce, em liberdade fogosa como égua selvagem, na selva do mundo, nunca perdeste a liberdade de seres tu. Hoje sem espetadores, danças pelas manhãs como te apetece. Ninguém me conhece, ao ver-me em publico. Sou o que se chama a imagem da virtude, da boa postura e culta. Sem corrosão, da idade, ainda subiria ao damasqueiro. Era feliz se pudesse voltar a ser outra vez a intrépida, sem me apelidarem de louca.
Mas, vou fazendo o que posso ninguém me vê nem critica.
Mas a critica nada me diz, penso que é inveja de nunca terem sido felizes na singeleza de criança, feita mulher, esposa, mãe, avó e novamente criança adulta em companhia de alguém que me dá carinho e companhia.
Palavras leva-as o vento, pedras não voam, rancores e desdéns, são erva seca, que todos pisam e nem notam.
Porto, 11 de Maio de 2017
Carminha Nieves.