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NO TEMPO SEM IDADE

 

  NO TEMPO SEM IDADE.

 

 

Perdemo-nos por amor, por vingança, inveja, ignorãncia, maldade, tristeza sofrimento fisico e moral- Até por saudade.

Tambem me perdi um pouco por sinceridade, por dar muito, por ter pena dos outros, por tentar sempre ajudar. Trabalhar até não conseguir aguentar. E perdi grande parte da minha vida. Quando devia gozar a juventude, cuidava dos filhos, meus e dos outros.

Quando devia no esplendor no tempo de sonhar, por doença, por sofrer internada prostrada na cama de uma casa de saude. Estive quase sempre no lugar errado da vida e de mim. Por muito amar na inocência de que o podia fazer, gerou solidão, desilusão e tristeza.

Nunca tive o meu tempo, nunca soube o que significava. Hoje como ramo quase seco de uma arvore esquecida, algures, ainda penso que alguém me dará um pouco de agua nas raízes, que teimam a agarrar-se á  terra.

Sou a esquecida, insignificância. Sem valor. Represento o tempo e a vida perdida regando raízes de outras arvores, que não precisavam. É a vida no seu melhor, sem viver a minha, dei vida a muita gente.

Arrependida? Um pouco, muito ou nada. Depende do momento de desilusão, em que me encontre.

Como bálsamo, desconhecidos ainda me dizem que sou bonita! Sinto um nó na garganta pois sei que o dizem com convicção. Mas nunca pensei que o fosse, quanto mais agora!

Sou farol velho, que na noite brilha de longe a navegantes e dou confiança e companhia como estrela extinta há muito tempo, mas que ainda vemos o seu cintilar.

Misturei as minhas ¡ágrimas com sangue de feridas de outros.

Hoje talvez digam que os abandonei. Mas são eu sei a pura verdade, o que sofri a ver o sofrimento de outros. Quantas vezes pedi a Deus que fizesse das minhas mãos as Suas e os pudesse curar.

Na inquietude do meu pensar e sentir, pensam que sou a culpada de tudo. Mesmo de ter nascido. Assim seja

 

E na diversidade, na mistura incríl­vel do pensamento, dou um abraço de longe a todos quantos por segundos se lembrou de mim e me aconchegou num carinho, indelevel, mas sentido, que agradeço do coração.

 

Porto, 11 de agosto de 2017

Carminha Nieves