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Parei num grão de areia
que olhei prolongadamente.
Mirei aquele
entre o amarelo e o branco
universo
que na ponta de um dedo
me encontrava
perdido
desta expansão ordenada e infinita
de um Universo que me perde
desordenado e contraído
Tracei uma fina linha vermelha
que cruzou direita
uma folha de papel branco
perfeita na sua condição de linha.
Ali ficou algum tempo
sozinha e visível e marcante
de marcar o que nem sei
mas marcando.
Depois, há sempre um, depois
linhas sem conta, ondulantes e direitas
encheram a brancura do papel
e num instante se perde a noção e a conta
do que havia de linha direita
de ponto a ponto.
Gotas de ilusões nas gotas de sol
depois do raio da chuva que nada lavou.
Tudo se ergue de pequenos pedaços
e tudo cai na terra ou no tempo
que aturou e sustentou gerações
como ondas que se desfazem nas rochas
que desfazem
e arrastam areia que alisam
no vazio branco
de um destino incerto.
O meu olhar pisa sensações
nos lagos de sentimentos afogados
em cada bocado que viveu de pertencer
e agora aguarda o peso de pertencer de novo.
O que pesa é sempre a falta
os limites que se estreitam
o equilíbrio que se renova em cada perda
e de novo se perde
no tentear os dias e as sensações
que arrastam os pés de um para outro
num jogo de empurra que se retarda sempre
na cabeça que se atrasa sempre.
Preciso desta estrada repleta de sinais
preciso de ordem nestes sentidos proibidos
que a meu lado caminham
num sentido que não entendo
e por isso aceito, porque não entendo.
Marcas e limites, ordem nesta desordem
que por mim pensa e por mim vive
neste intervalo entre vazios
que me permite ser
sempre
a criança que nada sabe
e por isso remexe, vasculha
e tenta de cada garfada
a plenitude que se perde na seguinte.
Sucessão que se alonga na distancia
marcas que aos poucos vão caindo
incapazes do peso que as solta
deixando-as cair........
vou fazer a barba ao meu filho
essa marca que me verga e eu não solto
nem quero deixar, nem cair com ela
O que importa nem sempre é importante
é mais uma relação de factores que se unem
e dos quais o mais importante
é sempre o último
o que no fim sente, o que é importante
para quem o sente no fim.
Morrem os momentos
como palavras que se alinham
no sentido
esquerda, direita, alinhadas
na busca de uma noção
que dispense as noções todas
na busca da razão que se possa perder
na ausência das razões todas
que a distancia e o tempo engole
como lixo que se arruma
para que se possa fazer mais lixo limpo
fresco e razoável.
Anseio sentir da casa os tijolos que não vejo
as fundações que existem e o lixo que a fez
enquanto nela durmo e como, vivo e sinto
e nela espalho visões como pinturas
de um destino colorido que se encerra.
Sentado e engolido pela prisão que me suga
espalho visões, viagens e ilusões
que só eu posso
de só eu abanar as grades que são minhas
de só eu procurar a merda que sou.
Cinquenta e dois anos e o mesmo impasse
os meus segundos parecem de quartzo
param e arrancam
e só a sucessão deles
o acumular
os esconde
guardados pelos recantos
que acumulam o desenrolar deles
que se faz mais importante
do que eles
escondidos e perdidos pelos recantos.
Ando a perder a coerência
ao certo nem sei bem o que é
mas certamente não é o meu forte.
Faço pausas de retomar o que sou
e olhando os meus, olho o que posso ser
neles
que são o meu forte.
É tudo tão relativo, tão passageiro
mas como pregos de dor e de prazer
que afundam as sensações
e ressaltam as emoções
e marcam caminhos de andar sempre
nada pára, nada mesmo
o percurso que dormindo se faz
o percurso que inconsciente prossegue
nada o pára, nem os pregos.
Tudo parece o sentido de cada grão de areia
na teimosia do vento, do cimento
para que nunca fique sozinho
numa escrita DADA que anseia o senso
de não o querer e o tem sempre
por não o querer.
Dos versos desenhados de Apolinnaire
ao abstracto repleto de formas novas
tudo é uma procura que agiganta cada vez mais
a partida tantas vezes perdida
nos cantos, nos sensos, nos sentidos
estuantes, pulsantes e vivos
de serem da fuga o constante regresso.
Do mal eterno à beleza efémera
hoje o Vetell sagrou~se campeão
e o Benfica ganhou.
A desordem que vive na minha cabeça
ordenou-se de novo
numa desordem mais remexida.
Tenho o vazio das certezas que não tenho
apraz-me o surrealismo de sentir que não vivo
e sentir o vigor do cansaço
em cada Kafka de cada esquina escusada.
As cores de tudo ser branco
escorrem como areia no tempo que as mistura.
A certeza de tudo ser incerto
permite sentir certo
o que se esvai, o que cai
como certezas que se erguem
da incerteza que nada segura.
As ondas que se enrolam levam o que trazem
e trazem o que levam
num mecanismo que afoga as perguntas
nas respostas que enrola constantes
como um borrifo eterno
como saliva que de novo se engole.