jorge BRAGA

Gotas escorrendo Palavras

Cortar das palavras

as definitivas

permitir a liberdade

de serem espelhos

acomodar virgulas e pontos finais

como chuva por cair

no olhar de quem as tenta

sentir

 

no espaço que as separa

abismo de penas e asas

de nem todas voarem

são somadas as diferenças

em cada ausência

em cada silêncio de ser olhado

em cada imagem ouvida

em cada eco palpado

 

arestas arredondadas em cada esquina

para que o labirinto de entender

as possa contornar

roçando tempo e mar

ao vento e sem pressa de acabar

 

cor de amanhecer

segundo a segundo

no anoitecer de cada um

permite de serem iguais

a cor que os faz desiguais

 

as noções sentem-se na ausência delas

as palavras crescem

quando faltam

e todas são do som

este quebrar sincopado

como quem bate e se faz certo

só por conseguir do tempo

criar cores e imagens nas palavras

espelhos vazios de aguardarem

de cada olhar  a luz  que os enche

 

das gotas transparentes

escorrendo

se faz o fundo

o profundo

sentir dentro