NO VENTO QUE PASSA, QUERIA AMAR-TE
Que saudade imensa é esta que o coração encolhe, que pranto seco faz soluçar este meu pensamento.
Grito silencioso que ninguém ouve, envolta no branco de quatro paredes, onde a minha sombra indelével e fugidia por vezes aparece, queria uma janela aberta por onde entrasse o sol radioso do amanhã e viesse, a esperança de que o meu tempo ainda me dará o que nunca tive.
De mansinho, sem se dar conta, tudo se vai perdendo do bom que a vida tem e como raio que tudo queima a realidade aparece de rompante e fere para sempre a inocente crença que vivemos rodeados de quem nos queria bem.
Muito custa, doí, magoa e talvez esta saudade seja a crosta desta ferida imensa que entranhada na carne nunca mais se cure.
Sonhadora, crédula, infantil, pobre de maus pensamentos, vivendo aquela felicidade de correr livre, subir às árvores, andar às escondidas com os cães e gatos, já a noite ia alta, sem medos, com o canto dos grilos alegres, no meio dos batatais, hoje no meio de ervas daninhas, já não corro. São outros lugares, sem o aroma dos damasqueiros, sem cães, nem gatos, os grilos desapareceram e mesmo sendo as noites estreladas, já nenhuma é minha.
É o sentir que sou passado, sonho perdido na madrugada do acordar que nas badaladas do relógio do tempo o meu deixou de as dar. Só resta ouvir sem retorno o tique taque, do tempo a passar.
Alguém tenho que tenta fazer-me feliz. Alguém que um pouco como eu, com simplicidade é como sabe viver.
Eternamente grata, carinhosamente o afago e tudo faço e farei para que seja feliz, pelo menos mais do que eu.
Pudesse eu acabar com esta saudade imensa, em vez de paredes brancas onde vislumbro a minha sombra fugidia, de mão dada contigo, correr por campos no meio do vento com cheiro a damasqueiros e amar-te com doçura, abraçar-te e esquecer o tempo.
Porto,29 de agosto de 2019
Carminha Nieves