Paira algo de impuro sobre a noção de futuro,
Algo para além deste muro onde me sento Lança sombra, escurece o advento,
Algo indistinto mas presente distorce esse advir,
Paira algo de impuro sobre este nosso futuro.
Pés suspensos no abismo, acima do chasma cismo,
Insisto nessa mancha escura,
Miro e fito-a, uma longa agrura
Sem raízes, passado desenrolado,
Um prometer gorado, cambiar inverificado,
Antro inóspito, alfombra de sombra,
Insisto nessa mancha escura
Uma sombra que perdura e não cintila,
Fado assolado, animal acossado,
Sobre estas costas pesam décadas de prece
E enfim, nunca nada jamais se entretece
À roda desse nosso futuro nada acontece.
Engelham as rugas no rosto dos descendentes
Enquanto inalterados, se quedam os assuntos pendentes,
Era venenosa, erva vadia, húmus acumulado,
Folhas caquéticas, chá interpretado, borras de café,
Ponte caída, distopia árida, descalabro da fé,
Não há apoio onde pousar um pé.
Outros deambulam e traçam um caminho,
Nós não bebemos vinho,
A nossa indolência ergue-se do manto,
Tectónica de placas, indolente ao pranto,
A nossa indolência é alheia ao núcleo,
Indiferente ao campo
Paira algo de impuro sobre uma visão do futuro
Deste dia repetido donde vos olhamos,
Não vemos para onde vamos
Nem sabemos onde estamos
Deste dia repetido donde vos olhamos,
Os olhos claros fitam vagamente um céu descolorido.
Para aquém desta res extensa, velho apêndice dolorido,
Mora o velho que ignorou o mar sentado na areia a sonhar.