PENSAMENTOS
Nunca cheguei a tempo. Pois sempre digo que tinha que ser um nada de tempo.
Nunca sonhei com o futuro, nem fiz planos, ou querer ter ou ser algo.
Deambulei, o que tinha chegava. Não pensei que um dia ficaria sem Pais, longe da minha terra, sem conhecer quase a Família deles ficaria neste amargo cinzento, de estar só. Amigas tive, mas já partiram e mais irão. E cada vez um bocado de mim vai também.
É assim a vida, para todos os que vão ficando.
Pobres do que nada sentem e vivem em competição para serem mais que outros. Hipotecados, ao faz de conta que são ricos, no fim só numa caixa de madeira descem ao fundo de uma cova e são terra também. Desprezaram, ofenderam, acusaram, roubaram a alegria a muitos, violaram sem escrúpulos os sentimentos sinceros de quem os afagou com carinho em situações que eles precisavam.
A vida é muito mais, é o ser, o amor, a sinceridade a humildade a gratidão e principalmente fazer o que se deve, sem pensar se haverá retorno dos outros.
Os pássaros cantam, sem pensar se os ouvem. O que querem é uma árvore para poisar e descansar. Os ninhos fá-los-ão mais tarde. Eu tive uma árvore, cantei, o ninho com muito esforço também o tive. Mas um temporal de inveja, ciúmes, com bicadas dolorosas obrigou-me a deixa-lo.
Alguém me recolheu e num beiral aconchegado tomou conta de mim. O meu ninho está velho, desprezado, o temporal aos poucos vai matando silenciosamente, o ciúme a inveja.
Do meu beiral assisto e não sorrio, só sinto uma mágoa intensa e a tristeza de que viver é muito mais.
Porto,20 de novembro 2019