carminha nieves

CONFISSÃO DO NADA

 

                             

                                                                                                                                                                                         

 

Escrevi mil poemas de amor, eles rimavam ou percorriam pensamentos. Amei muito, por dentro do meu pouco saber e sentir. Eu esperei por ansiedade e medo por você. Vivi intensamente e fiquei feliz por estar em seus braços. Esperar que fosse enorme, era uma vergonha, era sentir que era uma vergonha.

Tempos que passaram, mais do que a mesma coisa, sem o ser. Defino cada dia que passa nessa solidão e medo do cobiçoso, perdido entre quatro paredes, nem olho pela janela. A frieza da nudez das ruas, a chuva feita às lágrimas, uma proibição de sair, dar um jeito de estar com as pessoas, falar e conviver.

Sinto que minha vida vai parar. Jogando para a felicidade de não estar sozinho, pouco mais nada tenho.

Sem querer, tenho vergonha de escrever poemas. Acho que vai amolecer, que vai morrer, que está tão desesperado. Queria ser imensa, poder ajudar, saber acabar com tanta incerteza e me dar esperança de tanto chorarem, não poder limpá-los e trazê-los de volta à vida.

Momentos que nunca imaginei viver. Momentos que são uma eternidade, momentos claros ou insignificantes como ser humano.

Espero que sejas obrigado a atacar este fio áspero que me faz sentir a minha liberdade.

Muitas vezes senti que havia excessos, exageros, imoralidade, que o mundo estava errado.

Talvez aprendamos algo sobre esse castigo. Tudo o que é demais é erro.

Agradeço a Deus por poder dormir sem sobrecarregá-los, só precisei de mais um pouco de força para voltar a dormir como uma profissional.

 

Porto, 15 de novembro de 2020

Carminha Nieves (secreet50)