Invade-me o deslumbramento da noite!
(...)
Destrói-se a memória do tempo
na loucura dos dias insensatos e crus;
(...)
A excitação do ar a pedir um beijo
o beijo aos rés da terra onde o poema, no beijo
se une ao coração das pedras que cantam
o rosto do silêncio e do mistério.
Milagre é o da noite; ferve ou rubro-sangue como
se nesta fantasia nocturna o céu se levantasse
em prece ― um céu tangível, enorme,
do porte da imensidão da lua que impassível
abreviação da noite o dia. A palavra ergue-se, crua,
nenhum limbo da noite perplexamente misterioso,
e toma o seu lugar no \'regaço\' do poema.
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AG © ALQUIMIA DO VERBO (p.54), Calçada das Letras, 2021