Em tempos idos idealizei o futuro meu e de outros, com a certeza que era o ideal para todos.
Mas, como golpe violento de um mar revolto, tudo levou e tudo se modificou. Onde via amor ficou ódio, desconfiança e indiferença.
Tempos difíceis vieram e todos os sonhos desapareceram. Por querer dar muito e nunca prejudicar o prejuízo é só meu.
Ao fim de 49 anos finalmente senti que ia ser amada com doçura e teria os abraços que desejava. E assim foi e é. Mas o resto desapareceu do meu sonho.
Hoje, sem lágrimas para chorar, choro com o coração, em seco numa angústia imensa por tanta incompreensão de quem me conhece desde que nasceu.
A Vida mando, dispõe e obriga. Tenho mesmo que revoltada aceitar. E assim vivo somente com a companhia de Deus e do meu Anjo da guarda e de quem me abraça e me ajuda ao fim do dia no regresso do trabalho.
Quando se tem muito e se dá tudo, tudo temos, mas se não podemos nada temos de quem tanto recebeu.
Se pensassem que nada é de ninguém e que tudo é efémero e que a nossa pele por muito aveludada cobre o que se deteriora com o tempo e somos pó, talvez fôssemos mais humanos.
Tanto fiz, tanto me sacrifiquei, tanto dei a tanta gente e hoje sou estorvo para todos.
O firmamento devolve, mas o meu tempo já não é muito. Penso eu.
E o que queria era ter sempre os abraços doces e a companhia que tenho. Porque sem família mais nada espero. É duro, mas é a realidade e custe a quem custar é a verdade.
Desabafo. Porque cansei e acabou o perdoar de tanto desprezo. Se alguém ficar ofendido é o que há, simplesmente a VERDADE.
Fica a saudade de tempos idos onde pensei que tinha a semente a germinar do meu futuro.
Foi com tristeza que escrevi com o que me vai na alma, mas é a vida, a que manda em nós.
Porto, 28 de junho de 2023
Carminha Nieves (secreet 50)