Como se muda com o tempo! Vejo idosas arrastando os pés, um pouco curvadas, sozinhas indo pelos passeios, alheadas do que as rodeia, lá vão talvez a uma frutaria, ou comprar pão.
Estática na janela do meu quarto, olho-as e penso: Já foram juventude, correram, dançaram e viveram com agilidade, criaram filhos, amaram, foram desejadas. E o que vejo dá-me tristeza, penando os erros seus e talvez de outros, vão em busca do que perderam. Independência, forças, em resumo A Vida! Em novas nunca pensamos como seremos mais tarde. Vivemos os momentos que se transformam em anos e ficamos trôpegas, indefesas, sombras de alguém que ainda respira, mas que nada mais tem.
Deus, o fim da vida deveria ser diferente, nem me atrevo a imaginar como serei. Não posso. Nem quero.
Guarda-chuva velho, sapatos gastos, aí vão em busca do que eram. Quanta recordação e saudade, sem direito a sentir um olhar de amor, de aprovação, só pena e talvez um comentário silencioso de alguém mais novo a reprovar o andarem nos passeios a tirar-lhe espaço.
Desce o manto da neblina, escurece o dia, céu cinzento, chuva fria, envolvendo-as na solidão de nada poderem ter a não ser nostalgia e mágoa de não terem futuro.
Uma tristeza invade-me, juntamente com a certeza que mais cedo ou mais tarde seremos assim.
Na angustia de não poder parar o tempo, sinto que tenho que amar até á exaustão, beijar com amor, dar tudo e receber o que a vida de melhor contém, para mais tarde recordar e saber que aproveitei cada segundo.
Esquecer o que criticam, somente amar e ouvir o meu coração. Os outros não importam, lá chegarão e nem uns sapatos gastos terão nem guarda-chuva. Molhados e frios nos passeios, talvez não possam andar.
Não deixes que o céu escuro te acabrunhe, sê um raio de sol, resplandecente, ilumina quem te abraça e vive.
Enquanto Deus te ampara e deixa que tenhas sentimentos aproveita. A tua sombra vai atrás de ti e apanhar-te- á.
A esta hora, com as compras de certeza arrumadas, a sopa comida, devagar arrumam a cozinha e nada mais o dia lhes trará, pobres seres humanos que mesmo respirando e quem sabe com algumas ilusões, ficarão sentados numa cadeira incómoda a olhar pela janela, envolta na manta já gasta. O olhar para outras criaturas que se aventuram a sair e andar arrastando os pés pelos passeios.
São coisas da vida que a vida tem.
Porto,4 de Novembro de 2014
Carminha Nieves
- Autor: secreet50 (Seudónimo) ( Offline)
- Publicado: 4 de noviembre de 2014 a las 11:32
- Categoría: Reflexión
- Lecturas: 24
Comentarios2
Muito bonito relato Carminha, muita saudade, nostálgico.
Um abraço
Danny
PD: meus avós maternos eram portugueses
Dany, obrigada. Na foto é a mina Avó Materna, com um primo que por infelicidade já não me pode defender. Não a conheci, a prima sim. è a menina. foi tirada em Verin Província de Orense Espanha. Sou de lá.
Mas vivo aqui desde os 4 meses. O meu Pai teve que fugir na guerra civil de Espanha.A minha vida não cabe em livros de mil paginas.
Um abraço e conto sempre consigo aqui.
Carminha Nieves
E ti, que fas, Carmiñá, que pensas con os teus anos?
Eu so o castrapiño castellano que amo Galiza e tamen conozo Portugal.
E teño mais anos que ti. ¿Sabes o que penso? Enamorarme da muller xeitosiña e boa. Amañar a xubilación y vivir do conto estando de parola co as veciñas hasta que chegue o momento final. Sa o sabes.
Bueno Carmiña xeitosa; deixoche arrumacos e agarimos con forte aperta chea de bicos.
Poemas de Camilo
Gracias camilo. Haces bien. lo que tienes es que vivir a gusto. Te deseo todo lo bueno que puedas tener.
Un abrazo con amistad
Carminha Nieves
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