JÁ FUI, JÁ ERA, MAS AINDA SOU

carminha nieves

 

 

 

Sempre pensei muito em tudo.

Mil voltas dou quando tenho alguma coisa que não entendo, ou que tenho que tomar decisões.

Mesmo assim muitas vezes digo: devia de ter pensado melhor: Pois, o amanhã ninguém conhece. Tudo muda como o tempo, tudo de um momento para outro, é diferente.

Sem aviso, sei que vai demorar tempo, mais do que tenho, para tudo melhorar. Assim sendo, tudo quanto tinha programado, vai ser diferente. Sem sentir derrota, vou mudar tudo.

Mas, eu não mudo. Crónica, melhor dizendo. Não tem cura.

Impaciente, pouca paciência, por muito que ame alguém não consigo acatar os seus defeitos.

E tenho que chamar a atenção para eles. Tudo se pode conversar, se temos cuidado de não ofender. Assim quero que o façam a mim.

De tal forma que não ponho base na cara, quero que vejam as rugas e nunca ponho cinta, o meu corpo é como é. Assim sou por fora como sou por dentro. Vidro transparente e ultra limpo.

Muita coisa me incomoda, mas refilo, com leveza mas, digo.

Talvez por ser como sou, durmo como se estivesse noutra dimensão. Noites há que nem dou uma volta, acordo na mesma posição em que adormeço.

Tenho muito que agradecer a Deus, nem devia pedir nada. Já me deu e dá, tanto, que não O devo incomodar.

Mais um ano! Quase. Faltam umas horas. Olho para trás, tanta coisa! Tanta lágrima, tanta dor, tanto adeus a seres queridos! Num repente aqui estou, com esta idade! Rápido, passou o tempo, de tal forma que penso que estou enganada e falo de outra pessoa!

Uma nostalgia imensa me invade. Uma impotência me encolhe na pequena concha onde o meu tempo está.

Que ninguém me diga que não pensa na idade. Mentira, ela nota-se. Ri-se de nós e pisa-nos as esperanças e a alegria de viver. É momentâneo, mas é assim. Fico contente por fisicamente e mentalmente estar bem. Mas… a idade ninguém a pode tirar.

Noutros tempos pensava num futuro distante, hoje penso quanto me resta. Igual para todos. Ricos, pobres, poderosos, humildes, todos iguais

Aperta o coração, sofre a alma, começamos a ter vergonha de usar certas roupas mais juvenis. Retraímo-nos nas manifestações de carinho, de mostrar alegria numa gargalhada saborosa.

Esforçamo-nos para andar direitos e ágeis. Mas no fundo, estamos tristes mesmo que sejamos ligeiros nos passos.

Lembramo-nos das fantasias da juventude, dos nossos ídolos, das esperanças de sermos importantes e sermos a rainha das festas.

Tez lisa e brilhante, olhar cintilante e doce, cabelos ao vento, alegres e soltas na plenitude da beleza que comporta.

Por nos recordarmos de tantas coisas é que sentimos que o nosso tempo atrás ficou e não volta.

Saudades, muitas. Amargura doce que nos envolve e trás o desejo de sermos eternos.

A vida, é um instante, um sopro, um engano. Mas se Deus quiser vou festejar um ano mais e fazer de conta que tudo está bem e que a minha juventude perdura comigo.

Porto, 20 de Abril de 2016

Carminha Nieves

 

 

  • Autor: secreet50 (Seudónimo) (Offline Offline)
  • Publicado: 29 de mayo de 2016 a las 14:08
  • Categoría: Reflexión
  • Lecturas: 19
  • Usuarios favoritos de este poema: nelida moni
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Comentarios +

Comentarios1

  • Mael Lorens

    Acho que além do texto escrito que é uma maravilha a idade e un peso grande na tua vida .....não te crítico porque Eu con 63 años penso o mesmo que tu isto que se chama vida e un engaño e demasiado curto pouco .....Carpe Diem ....😘🌹



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