[para Wallace Stevens, a reflexão madura do ser poético]
um dia o poeta vai morrer.
— o rosto, primeiro, naqueles que o conheceram;
ou se dele, em memória, foi visto alguma vez
em canto recatado de mesa onde escrevia.
depois a sua imagem na lembrança dos amigos.
em qualquer canto o poeta morre — até a obra
que teima perdurar, perdida entre o pó e o mofo
dos carcomidos escaparates dos alfarrabistas.
em qualquer lugar o poeta morre:
— nem a imagem fica que dele tinham os amigos.
também os versos vão morrer — a estória
que contavam: uns, duros de entender
outros, suaves onde as musas que nunca existiram
lhe ditavam cantos belos de obscura melancolia.
o poeta é só mais um — a sua voz vai morrer um dia.
até o nome das obras que escreveu...
muito antes desta morte morrerão os títulos
que aos poemas ele deu e as palavras — que muitos
do poeta nunca leram — com que teceu a obra esquecida.
do poeta um dia morre tudo:
— a voz, a cara, até esta obra que escreveu.
mesmo antes de morrer o poeta morrerá se não se leu.
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in Colectânea literária de autores IDEÁRIOS 1
- Autor: Alvaro Giesta (Seudónimo) ( Offline)
- Publicado: 7 de junio de 2020 a las 10:43
- Categoría: Sin clasificar
- Lecturas: 15
Comentarios1
Profundo y reflexivo..
Gratias.
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